21 de agosto de 2008

Vestibular

Um mês e cinco dias depois, cá estou eu novamente. Com ou sem criatividade, com ou sem vontade, o negócio é escrever. E já irei avisando, a princípio, que não escreverei sobre a minha viagem rsrs.
Leitor indignado diz: “- Pô, você fica sem postar, enrola pra contar sobre a viagem e agora nem vai falar!? Vai tnc!”.
Calma caro leitor! Circunstâncias ou fatos ou derivados fizeram com que a viagem não seje citada, mas para sua curiosidade: a viagem foi boa, obrigada!
***


Observe a imagem acima. Estimulante ela, não? Normal? Nada demais? Não! Ela é preocupante, paranóica, assustadora. A maior preocupação, muitas vezes única, que vejo nos jovens, incluindo a mim mesmo, atualmente, pode ser resumida em uma só palavra: VESTIBULAR.
E não faltam razões para isso, afinal, não é qualquer um que pode pagar uma universidade particular de qualidade, e sem Ensino Superior seu currículo não é praticamente nada. Mas a que preço esquecemos dos problemas do país por causa de uma prova? Bom, na verdade é bem simples calcular o valor, vá até o site de uma universidade particular e confira o preço de uma mensalidade. Acabou-se com a educação social. Ao priorizar o mercado de trabalho, e não a vida nem a sociedade como um todo, já não importa mais desenvolver o espírito crítico, favorecer a criatividade ou abrir os horizontes do estudante. Para que isso importa?
Não se lêem mais as grandes obras da Literatura Brasileira e Internacional, mas apenas resumos destas obras. Afinal de contas, em exames vestibulares o que conta é saber marcar “x” na opção apontada como correta, se você leu ou não a obra ou conhece mais a fundo o pensamento do autor isso não importa. Os resumos dão conta do recado. E se você for ‘cú largo’, ajuda mais ainda.
Já conheci pessoalmente vários estudantes que alcançaram nota máxima numa prova de Literatura, ou chegaram perto disso, sem jamais ter lido uma obra literária. E ainda se gabam desse feito. É esse tipo de cidadão que queremos formar?
No começo aprendemos a ler, escrever e desenhar. Temos como tarefa de casa pintar desenhos, recortar figuras, ver desenhos animados na TV e esperar que quando a professora (ou tia) reviste nosso caderno, se surpreenda e coloque logo um “Maravilhoso! Parabéns! Você é dez!” e ponto. Mas, como tudo que é bom dura pouco, essa fase acaba, começamos a escrever mais, calcular mais, pesquisar mais e, conseqüentemente, pintar menos, desenhar menos, ver menos desenhos.
Como o ditado diz, “já que não pode com eles, junte-se a eles”. Adaptamos-nos a essa nova rotina e vamos que vemos, lutando para o famoso 10 ou 7 pra passar de ano. E sabe o que é pior? Não para por aí. A tendência é piorar.
Chegamos enfim no bendito Ensino Médio, Colegial ou o termo que for. Para uns, isso significa amadurecimento, aumento de auto-estima – “É, to ficando fodão! Sou mais velho, me respeite!” (claro, não podemos desconsiderar a precocidade) –, fim das aulas. Para outros significa pressão, medo, insegurança e derivados. Chega o momento do tão falado Vestibular! Altas faculdades, altos cursos, sonhos e mais sonhos. Pena que não nos avisaram que pra alcançar isso, dá trabalho.
Mesmo com todas as aulas, todos os livros de auto-ajuda, todas as revistas de vestibulares, todos os teste vocacionais, feiras de profissões, cursinhos pré-vestibulares e chocolate, você começa a cair na realidade; uma dúvida cruel começa a crescer dentro de você e ela só passa depois do Vestibular (ou pior, depois do início das aulas – ponto crucial para você perceber que era ou não aquilo que você queria). Você começa levar em conta que para a escolha certa, não bastam só os seus sonhos de criança e desejos. Entram fatores como faculdade, cidades, dinheiro, CURSOS! Sabe o quão difícil é você escolher uma coisa na qual vai se especializar por no mínimo 4 anos, e viver disso (ou não)?
Olhamos a nossa volta e vemos na televisão pessoas bem sucedidas, mestres, doutores, graduados, especialistas, que ganham milhões e são felizes da vida. Propagandas da faculdade dos sonhos: USP, Unicamp, UNESP, UFSCar, Mackenzie, UEL, PUC, UFGV, e sei lá mais quantas existem por aí, estimulando a você a almejar estudar em uma delas, colocam na sua mente que elas te levarão a um futuro promissor e brilhante.
Isso causa efeitos colaterais em certas pessoas como dependência intelectual, dores de cabeça, insônia, entre outros. Jovens que passam 12 horas do seu dia estudando para passar em medicina ou qualquer outro curso. E o que as pessoas pensam disso? “Que menino esforçado!”. E o que nós pensamos “Maluco!” ou “Deveria estudar mais...”. Começamos a pesquisar, pegar provas passadas para ver o quanto estamos indo bem ou não, e, na maioria das vezes, estamos indo não tão bem como deveríamos. Nessa hora, algumas pessoas desistem e se conformam a arrumar um bom emprego, comum salário que dê para sustentar-se e viver sem dificuldade, até sua aposentadoria, outras arrumam um trabalho que concilie com os estudos noturnos e se contentam com uma faculdade particular e outras colocam a cara a tapa e continuam estudando até passar na bendita faculdade dos “sonhos”.
Enfim, quando isso vai parar? Como você vai ter certeza que é isso que você quer? Isso tudo é certo? Jovens aprovados em primeiro lugar nas provas serão, necessariamente, os melhores profissionais no futuro? Ou ampliando mais ainda a indagação: jovens campeões serão os mais felizes, os mais integrados, ou se despedaçarão em conflitos e frustrações porque aprenderam a pensar que nossa existência é uma corrida de Fórmula Um?
Bom, você é a única pessoa que vai poder fazer essas escolhas e esperar o seu futuro incerto. Enquanto isso, Feliz Dia Nacional do Estudante.
Mas cá uma dica, se você leitor que pretende prestar Engenharia Física ou Física estiver desanimando, desanime de vez! Um candidato a menos pra mim rsrs

O grito, Edvard Munch